terça-feira, 4 de setembro de 2012

Dança do Ventre em SP e no RS... quais as diferenças?

Dança Oriental em SP e no RS... Quais as diferenças?
...
Muitas!!!


Com certeza a maioria de vocês pensou que este texto trata de técnicas de dança, estilo de dançar, figurinos utilizados e etc. Mas não, este texto trata de como a Dança Oriental é vista pelo público e como é o comportamento das bailarinas profissionais, professoras e alunas nos dois estados citados.
Começo dizendo que em SP existe já a alguns anos uma "febre de dança do ventre", algo muito mais intenso do que em qualquer outro estado em nosso país. Lá muitas meninas e mulheres investem em aulas e workshops para se tornarem bailarinas profissionais e muitas se tornam. Existem também as que já estão em idade mais avançada para dançarem no mercado comercial da dança, mas que fazem aulas e investem igualmente para terem uma dança de qualidade para si mesmas, para dançarem nas festas das escolas, nas mostras de dança e nos espetáculos de final de ano das escolas.

Aqui no RS tudo isso também existe, a grande diferença é que por aqui o investimento em aulas de qualidade e workshops é bem menor, pois a grande maioria das alunas e praticantes desta arte dá preferência a aulas com "mensalidades baratas" e quase não fazem workshops, não escolhem as professoras pela qualidade das aulas que serão oferecidas, nem pelo currículo de dança da professora, escolhem apenas pelo valor que pagarão pelas aulas e coisas tipo se a escola é perto de casa. Por aqui a maioria das mulheres acha que dança do ventre é "dancinha para o namorado/marido", muitas iniciam as aulas porque querem aprender a dançar para fazerem à dita dancinha para esquentar um casamento já morto ou segurar um cara que vai embora com certeza... Situação muito triste esta já comentada aqui no Blog em outro post. O verdadeiro sentido da dança é compreendido e aplicado apenas por uma minoria. Mulheres que compreendem este sentido, iniciam as aulas e aprendem a dançar para si e para se sentirem melhor com elas mesmas e com o mundo a sua volta, entrando nesta faixa vibratória a dança sempre acabam trazendo benefícios em campos como o social e o afetivo, criando ou aumentando a autoconfiança, algo que definitivamente está faltando e muito à mulherada atualmente, uma prova disso é esta crescente  "epidemia de depressão e ansiedade" que está acontecendo já a muitos anos e que parece piorar a cada ano.

Continuando a falar sobre aprendizado, por aqui mesmo as alunas que querem se tornar bailarinas, com interesse em se apresentar para o público mostram  pouquíssima dedicação séria e comprometimento com a própria evolução na dança, a grande maioria dança só nas aulas mesmo, 1 ou 2x por semana e como não evoluem no tempo mágico e milagroso que esperavam acabam se desestimulando e desistindo das aulas, algumas falam até que "a culpa é da professora" que não produziu o "milagre do méga rápido aprendizado" como elas sonhavam quando iniciaram as aulas de dança. Já em SP vemos muitas alunas nas escolas que se dedicam muito à dança, estudam muito, treinam muito e ensaiam muito as coreografias de final de ano das escolas e para concursos, a coisa lá é levada muito a sério e isso sempre me impressionou muito.

Em minha última viagem a SP participei do Festival Mosaico Brasil Egito criado e realizado por Lulu que aconteceu em sua escola a Shangrilá House em julho deste ano. Foram 7 dias de cursos com profissionais do Brasil de vários estados e também com os egípcios Gamal Seif e Khaled Seif, irmãos, bailarinos e coreógrafos de grande sucesso mundial e incrível qualidade técnica. Conhecer estes professores mudou a minha vida!!! Achei impressionante a quantidade de aulas e de participantes em todos os cursos, vi participantes profissionais já consagradas ao lado de suas alunas, alunas da Shangrilá e de alunas de outras escolas, vi também admiradoras da dança que estudam quando podem e não pertencem a nenhuma escola, mas se dedicam com muita seriedade ao estudo da dança. Isso me chamou muito a atenção, porque por aqui não vemos isso, infelizmente. Por aqui muitas vezes nem mesmo professoras fazem cursos regulares de aperfeiçoamento e nem mantém um ritmo de estudo como é o de SP.

 Enfim, em SP há um mundo inteiro funcionando a serviço da Dança do Ventre, de escolas de dança, workshops, festivais de dança, espetáculos, concursos e apresentações comerciais em bares e restaurantes. Aliás, este é um dos pontos principais que quero comentar com vocês.

Em SP existem muitas, mas muitas bailarinas que dançam comercialmente, dançam em bares e restaurantes semanalmente por um cachê. Estas apresentações podem ser acompanhadas de música ao vivo, e aí entram as orquestras e bandas como as do Sami Bordokan e Tony Mozayeck. Lá isso é super comum, já aqui no RS, dançar com música ao vivo é tipo raridade, algo a ser muito festejado pelas bailarinas. Em Porto Alegre existe um grupo de músicos chamado Oriental Beat que vem desenvolvendo um belo trabalho divulgando a música oriental, uma grande iniciativa, pois existem pouquíssimos músicos aqui trabalhando profissionalmente com a Dança Oriental.

Falando neste "circuito comercial da Dança Oriental" mais uma grande diferença entre os estados é que em SP existem muitas, mas muitas bailarinas dançando assim, enquanto que aqui no RS são bem poucas as que seguem esta linha profissional da dança.

Em SP o local mais famoso por apresentar a Dança Oriental é sem dúvida a Casa de chá Khan el Khalili que completa 30 anos de atividades no Brasil este ano, somente por esta informação dá para compreender a diferença que me refiro desde o início deste texto.

É claro que o fato de SP ser um estado que tem uma grande colônia árabe muito presente e atuante na sociedade faz toda a diferença, com certeza este é o principal motivo de a Dança Oriental ser tão presente por lá.

Em nosso estado temos também a presença de árabes na sociedade, em Pelotas, cidade onde se localiza meu Studio de Dança, há muitas famílias árabes de prestígio atuantes na sociedade, mas, não vejo uma apreciação regular da dança ou da música como acontece em SP.

Outra diferença que percebo é que por aqui a maioria das bailarinas de Dança Oriental não vive da dança, elas têm um "emprego formal", ou seja, o que paga as contas e a dança é levada em segundo plano porque por aqui não temos o mesmo mercado comercial que há em SP.

Viver da dança como professora também é algo raro por aqui, a maioria tem uma profissão com carteira assinada e benefícios, a segurança para manter o orçamento mensal de gastos e em segundo plano ministram aulas em academias de ginástica ou musculação que oferecem aulas de dança.
Quando a situação é um pouco melhor conseguem ministrar aulas em alguma escola de dança que ofereça uma mínima estrutura de sala de aula e etc.
Raras conseguem ter sua própria escola de dança e então poder criar e oferecer um espaço de aulas decorado ao estilo árabe e estrutura específica para a dança do ventre. Ainda assim, apenas uma minoria consegue ter projeção e reconhecimento, ter a dança como sua única ou principal atividade, ministrando aulas regulares e cursos de formação.

Orgulhosamente me incluo no grupo destas guerreiras vencedoras!!!

Já em SP existem milhares de escolas de dança especializadas em Dança Oriental, escolas e empresas que possuem centenas de alunas que buscam se profissionalizar na dança para se tornarem bailarinas e dançarem no circuito comercial e também se tornarem professoras.

No momento existem muitos cursos ditos profissionalizantes e isso mostra a preocupação que as futuras bailarinas têm ao estudarem a dança por lá.

Em nosso estado algumas ótimas iniciativas estão sendo criadas, também me incluo neste grupo e desde o ano de 2012 iniciei meu curso de Formação de Bailarinas.
Em SP, famílias inteiras trabalham em função Dança do Ventre, é um grande negócio, sério e lucrativo. A Dança oriental proporciona a estas pessoas um trabalho formal e muito bem remunerado, existem muitas empresas que criam e vendem o sonho e o glamour da Dança Oriental, coisa que por aqui também não temos.

Apenas poucos revendedores trabalham com os acessórios da dança, que é vendido em grande maioria de maneira informal nas próprias escolas e pelas professoras.

Fica claro que mesmo com as iniciativas que temos por aqui ainda estamos anos luz da popularização e apreciação que a Dança Oriental tem em São Paulo. É claro que temos bailarinas, professoras e músicos de qualidade, mas estou falando em quantidade, visibilidade na mídia e atuação de profissionais.

Como tudo na vida tem dois lados, o positivo e o negativo, eu diria que o lado negativo seria a pouca visibilidade que a Dança Oriental tem por aqui e o lado positivo seria uma aura da Dança Oriental mística, sagrada e holística que não se vê muito em SP.

É claro que os "ataques de lantejoulismo e superego" que já se tornaram inseparáveis do mundo Bellydance.

Creio que o pior lado comercial da Dança Oriental é a criação de exércitos de clones e cópias de professoras famosas que rolam em SP, também à guerra de bailarinas por vagas fixas para dançarem em Bares e Restaurantes.

Como a oferta de bailarinas por lá é bem grande isso acabou por gerar uma sobra de bailarinas e uma desvalorização do valor do cachê pago por cada apresentação em relação à, por exemplo, uns 10 anos atrás.

Em locais de SP, como bares noturnos, a dança é apresentada aos seus clientes como um tira gosto, veem as bailarinas apenas como mais um produto da casa, algo que pode gerar lucro, não valorizam a dança em si, mas os corpos das bailarinas e dão preferência a bailarinas jovens e magras, desprezando muitas bailarinas talentosas que não se enquadram neste biótipo Bellydance.

Quem conhece os bastidores deste "bellymundo" de lá sabe bem do que estou falando, muitas passaram por esta experiência e resolveram sair.

É claro que nada pode ser generalizado, existem sim, lugares ótimos para se dançar onde as bailarinas são tratadas como estrelas, se dão bem entre si, são bem pagas e valorizadas pelos proprietários destes locais.
 Eu particularmente não tenho interesse no mundo comercial dança/bar/restaurante, meu foco de trabalho sempre foi e é a dança/palco/festivais de dança/espetáculos/ensino.

Isso não quer dizer que eu despreze quem vive de dançar em bares, apenas não é meu ideal de trabalho com a dança. 

O respeito às diferenças deve existir sempre, o que não dá para aturar são bailarinas que vendem sua dança de maneira antiética e vulgar, denegrindo a imagem de todas as outras bailarinas sérias que vivem a dança como forma de expressão e arte, de maneira ética e profissional, estudando e se aperfeiçoando sempre, levando os benefícios da dança para muitas mulheres e meninas.

Sou proprietária do meu próprio Studio de Dança, criado desde 2009, e a cada ano que passa meu trabalho vem sendo já reconhecido não só no meu estado que é o RS mas em vários estados do Brasil.

Através de muito estudo, determinação e profissionalismo meu nome tem se tornado referência em Dança Oriental de qualidade e excelência em didática. O caminho não é fácil, mas a jornada é maravilhosa.

Em março deste ano me formei em Administração de Empresas e venho aplicando todos os conhecimentos adquiridos na faculdade para que meu Studio se torne mais do que um ótimo espaço para a prática da Dança do Ventre, estou fazendo com que se torne também uma empresa sólida.

Tenho muitos projetos no momento, alguns já estão em prática e outros ainda estão em fase de aprimoramento.

Venho desenvolvendo um trabalho com muito respeito à cultura egípcia e árabe e com muita responsabilidade em relação à Dança Oriental.

Os frutos já estão sendo colhidos e posso dizer com muita alegria e orgulho que sim, eu sou bailarina, professora e coreógrafa de Dança Oriental e sim esta é minha profissão e é minha única atividade profissional, meu único emprego.

Sou uma profissional feliz e realizada, pois minha paixão, meu amor e minha dedicação a esta arte são os diferenciais em meu trabalho e são também o meu sucesso nesta profissão.

Um dos meus projetos para 2013 será um curso voltado ao lado administrativo de escolas de dança, com um conteúdo de muita qualidade onde as participantes terão noções de Plano de Negócio, Marketing digital, Gestão de Pessoas, Controle Contábil e muitos outros assuntos importantes para as professoras que pensam em criar, manter e tornar rentáveis seus próprios espaços de dança.

Creio que esta visão administrativa e de negócios seja também outro grande diferencial entre a Dança Oriental aqui no RS e em SP, pois a própria divulgação das escolas e bailarinas mostra como elas levam isso também muito a sério lá, elas investem nisso.

É claro que estas são minhas impressões pessoais sobre a presença da dança e as diferenças desta presença entre os dois estados, daqui a um ano ou mais de repente minha visão mude ou talvez com o surgimento de novas profissionais na dança ou o meu conhecimento de algumas que desconheço hoje mude meu conceito.

É claro que também não estou dizendo que aqui não existem bailarinas e professoras sérias e com visão empresarial, minha impressão pessoal é de que estas são uma minoria, mas esta realidade pode ser modificada, estamos todas aqui para “evoluir”, o Sol nasce para todas, o que cada uma faz com os raios que recebe é a grande diferença. Não roubo os raios de ninguém, eu produzo minha própria luz.

Este texto nasceu em uma madrugada de estudo, vídeos, sites, textos e tive vontade de compartilhar minhas impressões com outras bailarinas e pessoas interessadas na Dança do Ventre como arte. Era para ser um pequeno post que acabou se tornando bem mais extenso e parece que sempre haverá o que falar, por isso, devaneios à parte encerro por aqui.


Gratidão a você que leu minhas palavras, se você veio parar aqui com certeza não é por acaso.


As linhas das nossas vidas se cruzaram, que sejamos Luz & Amor!





Janahina Borges
Bailarina, coreógrafa, Professora de Dança Oriental.
Proprietária do Studio ISHTAR – Núcleo de Harmonização Feminina

Autora do e-book RITMOS ÁRABES.










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